Ser atriz, ser artista! Esse é meu destino!

Ser atriz, ser artista! Esse é meu destino!

domingo, 17 de abril de 2011

Entregar-se é tudo?

Entregar-se é doar o mais íntimo do seu ser e perceber que foi em troca de nada!
Começo este texto dizendo que há dois momentos em que me entreguei. O primeiro foi para o teatro. Sei que a maior troca acontece entre ator e público. Porém, há outra troca tão sutil e inacessível ao público. É a troca do entregar-se, eu dou ao personagem, à peça, ao autor, ao diretor, ao público e não recebo nada.
Alguns dizem: você recebe conhecimento, vivência, experiência, pois no teatro você faz coisas que não pode fazer na vida. Sim, lá sou uma, e na vida muitas vezes sou tantas, que não sei quem eu realmente sou. As Glorinhas, Helenas, Lilis, Magnólias, Marias, Marries e outras tantas que vivi no palco, rondam e circundam diariamente meus pensamentos, não permitindo que eu seja a Angélica. Sim, a vida de artista tem esse sofrimento, levar consigo todos os dias uma bagagem, com personagens aglomerados e sufocantes, que não deixam esta artista ser um ser humano comum. Muitos dizem: mas isso é loucura, somos um só. Eu lhes respondo enfática: Não. Somos mil vidas em um só corpo.
Podemos ser obedientes com nossos pais, sensuais com nossos namorados, simpáticas com nossos amigos e sérias com nossos chefes. Sim, mutantes, somos seres mutantes. Mas uma atriz tem por dever e direito a liberdade fantástica do teatro. Lá no palco representamos de alma limpa. Eu nunca fui outra em cena, somente Angélica. Somente Eu. O público que me assiste tem o melhor de mim atriz e pessoa. Eles recebem a minha alma pura, meu corpo inteiro. Por isso disse, a troca não é justa. Eu me entreguei... eu juro que me entreguei.
Muitos falam: mas o público aplaudiu em pé. Digo: isso é reconhecimento. Sim, consideração, fama, sucesso, aplauso. Isso não é troca. A arte do teatro é a da doação. Eu falo uma piada, mas é o público que dá a risada. Assim quando conto uma história triste, é o público que chora. O ator fica ali, sem juízo da própria sorte. Mas calma, estou apenas na primeira doação. A segunda está relacionada ao sexo.
Ao dormir, fazer amor, ou simplesmente transar com uma atriz, o outro dorme com a personagem que ele admirou no palco e acorda com a pessoa. E a realidade injusta e cruel lhes diz: viu, era só uma atriz. O que acontece? A magia cênica acaba. A ilusão termina. Novamente a atriz se entrega de corpo e alma e a troca não acontece. Um orgasmo atinge o corpo e os sentidos: tato, olfato, visão, paladar e audição. Mas para uma atriz isto vai além.
Agora ela quer uma compreensão da existência de se doar tanto em prol do que? Ela precisa de respostas e não novas perguntas. Ela precisa de um lar. Ela precisa de essência. Ela precisa de paz. Não! Não é isso que você vai ter. A entrega é tua, a busca também e uma não concorda com a outra. Do que ela precisa então? Novos orgasmos artísticos e emocionais? Um dia, algum deles irá a satisfazer? Quem sabe. Este é o paradoxo da atriz. Entrego, quero, não recebo, continuo buscando, sentindo falta, dando. E mesmo depois de dar. Nos dois sentidos. A atriz ainda está vazia.

Por Angélica Ertel 

3 comentários:

  1. me lembrou uma musica que fala sobre isso, o vazio que dá se doar ao publico... toca lá no fundo!

    ResponderExcluir
  2. Bruna Lacerda Cardoso30 de junho de 2011 às 23:37

    Angeeee que lindoo :D
    Tu escreve mtoo bemm, não me admiro onde estas hojee, tu merece mto mais guriaaa!! Parabéns ameeei tuas poesias :)

    ResponderExcluir
  3. A arte do teatro é a da doação. A frase citada por ti mesma , resume tudo ! Parabéns .

    ResponderExcluir

Uma mente inquieta!

Minha foto
Atriz, Diretora e Produtora, formada pela Universidade Federal de Santa Maria - Proprietária da Empresa Performance Produtora Cultural

As Balzaquianas

As Balzaquianas
Foto: Luma Jochims